terça-feira, 24 de abril de 2012

Outono frio

Frio batendo no dorso frágil,
Espera inacabável por um ser que não vem.
Fico aqui, trêmula e calada
À procura desse outrém.

O lugar é belo, há árvores vazias,
Um campo morto vasto
E aves de rapina.


Avistei o meu amor:
Bem longínquo ele vinha.
Desembacei o óculos, manchado do vento frio
De pronto sumiu,
Pus-me sozinha.


Adormeci naquela neblina gelada
Que anunciava a noite breve
Dedos roxos, boca seca,
Coração fremitando, alma leve.


Enredei-me em umas folhas,
À paisagem integrei.
Hipotérmica, morrediça,
Simplesmente congelei.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Onde vivi

Hoje vi tantas coisas
Que nem sei se vivo mais.
Aquarelas de insetos putrefatos,
Incensos de alcatraz.

Colori minha rua com tudo isto,
Pilhas e pilhas de lixo joguei ali.
Um mundinho pueril em desalinho,
Sonhos de um dia:
Escondidos. Ali; bem ali.

Um dia alguém juntará tudo isto,
Afinal, quem não quer reviver o passado?
Enquanto o café faz efeito em meus nervos,
Gente de todo o canto -
Churrasco vivo fugindo da morte -
Revirando o lixo, limpando que bagunçei,
Procura com veemência
Aquele sonho. Dali, dali.

Nada verão, só eu verei.
Aqueles insetos ainda para mim são aquarela.
Mundo bonito em que me encontro,
Mas o caminho não revelarei a ninguém.
Apenas a você, não leve a mal.
Feche os olhos
E abra a mente.
Junte palavras,
Não recolha o lixo.
Ali, somente ALI, estará aquela cidade,
A cidade bela em que vivi.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Nuvem de alma.

Hoje senti o vento
Batendo suavemente em mim.
Em uma voraz nesga de mundo
Um tanto ufano - confesso-
Amorfa pus-me de pronto.

Fui nuvem, fui plasma
E tantas pessoas
Que quase uno-me
A essa metamorfose mental
E estabeleço-me ali.

Um forte baque
Em algum gongo
No outro lado da Terra
Dispara meu coração,
Traz de volta meu sangue.
-Era um trovão, o que me diz?
Presságio para fechar
Uma outra vez os olhos
E abri-los - ou não
Em um corpo sem forma
De vez.