domingo, 31 de julho de 2011

Andando entre os sonhos

Andando entre um sonho e outro
Tropeço em algumas pedras.
Uma delas, você,
Me fez parar.
Desconfiei de antemão
Pausei - olhei para os lados - continuei.
Não sei denominar
O que me deixou aqui:
Parada, atordoada.

Queria sentir amor,
Queria uma mão para segurar,
Queria ser um romântico beija-flor,
Queria um bem-me-quer para amar.

Assim os delírios seguem,
Me perdendo entre as rochas.
Montanhas, às vezes, surgem
Mas ignoro a loucura de minha nostalgia.

Fiz uma canção.
Você, o nome dela.
Sonho mais longo que tive,
Falei, cantei você a trezentos mil decibéis.
Sonhei mais alto que pude,
Fiz a loucura que nunca pensei.

Achei que não era assim,
Desviei de cada montanha outrora.
Fiz que não sabia compôr,
Surpreendi com o poder dessas notas.

Quando a mente fala mais alto
E os sonhos não dão a razão,
É hora de apelar para o peito;
Nunca erra esse tal coração.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

LOUCOS E SANTOS

Li e amei, me identifiquei pakas *--*


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.

Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

(Oscar Wilde)

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Árvore da Vida

Uma vida em meio aos escombros
És árvore, sensível,
Raio de luz que invade aos poucos,
Abrindo fronteiras para o invisível.
Uma cena singular.

Num feixe, luzes e troncos se envolvem;
Num canto, uma pequena garota explora sons e sinais
De um tempo que recém se iniciara, junto à aurora.
Pasmem aqueles que pensam
Que de nada vale a imagem para a menina:
A luz que cruza a árvore elabora um céu particular,
Uma imagem nítida da cena infantil:
Sois terra, calor e força;
És árvore, mas a minha imagem da vida.

Imagem que se distrai
Entre os assombros da noite,
Amor, que fica e vai
Ascendendo, atracando ao porto.
Aquela arte de antes,
Aurora da vida,
Ficará sempre em meu peito
Palpitando, rente às feridas.


Co-criado por Lucas Bonez e Natália Galvão

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Uma noite fria




A névoa baixa,
Luzes bruxuleantes.
Frio, muito frio.
A ponta do nariz congelada,
Uma leve música ressoa ao fundo,
A noite tapa todos
E o que resta de belo cai sobre nós.

Silêncio.
Cheiro da verdade,
Fecho os olhos e,
Por um segundo,
Sinto viver como nunca.

As sombras dos passeantes,
Dos parados
E dos estáticos
Austeram qualquer sensação negativa,
Qualquer frio.

Minhas cenas de terror,
Minhas cenas de suspense,
Meus sonhos, tortuosos,
Envoltos, apenas
Em uma noite fria
-Muito fria-
Em um lugar mágico
Em que me encontro, aqui.
Como é bom viver!

terça-feira, 19 de julho de 2011

Uma floresta em mim


Me integro à natureza.
Sons, cheiros, estímulos:
Música, perfume, dança.

Sou floresta
Dentro de mim.
Uma ininterrúpta jogada
Para entrar em sintonia.

Vejo animais, seres,
De muitos tipos;
Anseio por pegá-los
Por tê-los para mim.
Quer saber?
Já são todos meus.

Neste mundo,
Floresta de Groelomba,
Me refugio lá.
Entre intermináveis conversas
Com uma égua prenha,
Pauso para apreciar
Nas últimas neflas
De luz do dia,
Pequenos gnomos.
Lindos, recolhendo as pétalas das flores
Para devolvê-las ao raiar
Do novo dia.

Esse lugar me chama,
Me protege, acalenta.
Já está noite
Mas não há perigo,
Estou dentro de mim.

Não sinto frio
Nesse trópico,
Faço companhia aos morcegos.

Meus amores, chamá-los-ei
Algum dia
Para fazerem-me companhia.
Quiçá já estão aqui comigo,
Encantadores,
Trazem-me alegria.

Sóis e luas, invernos e verões.
Enfim sou prisioneira
De onde não quero
Nem preciso sair.
Às vezes
Esses meus dois amores
Vêm me visitar;
Acendemos fogueira,
Ficamos a cantar.

Ah, quantas histórias renderiam
Essa mágica floresta de mim.
Mas preciso ir já,
Os gafanhotos há muito
Estão a essas palavras observando...

Decepção

Sentimento que afoga
Pixel a pixel
O painel da felicidade.

Apaga sorrisos,
Destrói ilusões;
Saudades
De um mundo sincero,
Sem meros interesses,
Que a falsidade não corroía.

Como uma traiçoeira traça
Em frente a um belo vestido de seda,
Os sentimentos ruins
Acabam com o trabalho
Dos bichos-da-seda,
Destróem o castelinho da felicidade
Atentando direto aos alicerces.
Tiranos.

Decepção
Decepção
Decepção
A estas almas que se perdem
À rede de mentiras.

Perdão, perdão?
O tempo cura tudo,
Espero não seja doce ilusão.

Algum dia
Talvez
Entendamos o porquê.

Enquanto isso,
Cansei de ser trouxa.

domingo, 17 de julho de 2011

Dois ventos tão distantes


Dois núcleos, prestes a fundir-se,
Siameses por conta dos novos tempos,
Que precisam unir-se para suprir
Suas existências inequívocas.

Desde o passado
Esses ventos tão-distantes
Demoraram para achar-se.
As brisas periféricas,
Ao tocarem-se, olharem-se, sentirem-se, perceberam
Que o frio
Sem o quente
É apenas um estado,
Mas juntando-os,
Temos algo muito mais aprazível.

Dizer com palavras é difícil,
Explicar um amor tão omisso,
Fazer mostrar o que todos vêem,
Mas os ventos, coitados, apenas mentem.
E o pior, para si mesmos; ai tempo!

Espectros-irmãos que se entrelaçam
Com apenas um olhar, um gesto, um toque,
Estão prestes a tornarem-se um só, insuperáveis;
Mas a gravidade da Terra dificulta o encontro
De dois ventos tão singulares.

O amor é imbatível.
Luta tempo, para viver
O que nunca imaginou ser possível.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Certos amores sem sintonia


Certos amores não marcam hora
Simplesmente chegam
Chegam muitas vezes em terrenos não preparados
Terrenos que estejam ainda em construção
Terrenos fora de si
Terrenos nunca antes preparados talvez
Talvez em terrenos sem sintonia com o amado em questão
E esse é o problema do coração
Amores nem sempre andam juntos
Nem sempre acontecem juntos
Enquanto uns vivem suas vidas normalmente
Outros sofrem com o amor loucamente
Amar no tempo errado é ruim
Ser amado no tempo errado é ruim
Mas o pior é nunca achar tempo para amar assim.


Leonardo Cruz

Arco-íris do amor


Vermelho sangue quente, fervendo nas veias de um jovem sonhador;
Laranja fusão das almas, extrema luz que banha o corpo e mostra a alma, caliente;
Amarelo é o poder, o poder de amar, sedução, ganância versus loucura versus paixão;
Verde a parte mais pura da alma, o espectro do ser, aguçado, sublime;
Azul não se vê, não se sente, está lá para permitir a fusão dos sentidos, ao saber;
Índigo indica as estrelas, une a nós, não seleta, ascende;
Violeta lá vamos nós, acabando esse arco-íris de sentimentos, sons, vamos flutuar para onde não necessitemos de nada a mais além de sete mágicas cores, nós e elas...

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A garota e o vaga-lume




Sozinha na multidão; parada, frágil, atormentada ouvindo o lamúrio dos mortos-vivos.
Sentada ao chão nessa floresta inundada de almas, procuro, incessante, em meio ao turbilhão de tumulto, o horizonte. A nostalgia sobe por meu esôfago como uma bolha de sangue escaldante; minha diversão é o filme mudo, apagadiço, dos fantasmas e seu vai-vem, quiçá mudo pois já me embebi dele, suguei-o.
Em meio ao cenário emblemático cinza, que me envolve a tanto tempo, vejo um feixe claro, um vaga-lume, que irradia o verde-musgo das árvores e tira da nébria da eterna noite tantas belezas ocultadas pela constante e impermeável matiz monocromática.
Em um pequeno instante sinto que não pertenço a esse lugar, que há algum sítio distante onde eu possa ir, que não exista só a escuridão, o medo, o torpor das almas. É de onde esse ser veio, de onde trouxe a luz que agora me banha, sua luz.
Enquanto brinca comigo de longe, sinto-me mais perto dele do que me senti a vida toda neste mundo, entre esbarros e tropeços em seres inertes. Penso como farei para tê-lo, para trazê-lo até mim. Nesses poucos instantes que tudo isso me passa pela cabeça -séculos em minha mente-, sinto que a energia cedida a mim por aquele desconhecido toma forma, e se transforma em uma chama de coragem. Tomarei essa chama e transporei esse mundo de sombras que me cerca e me toma. Irei atrás de meu vaga-lume por céu e por terra para capturá-lo; sairei dessa infímia terra de mortos.
Levanto, sem tirar os olhos daquele ser que me entorpece, esqueço tudo e flutuo em sua direção, em sua luz. Ao chegar mais perto, a imensidão desaparece. Somos só eu e você; nós e nossa luz.
Mil anos se passaram para eu achar o que sempre procurei; finalmente um brilho em mesma sintonia para enfim virarmos energia e sermos o sol deste mundo gris.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Afinal, quem são os racionais?

Quem foi que disse que os seres humanos são animais racionais?
Eu olho para todos os lados e vejo todos os outros animais contribuindo para o ciclo biológico do planeta, enquanto os humanos lutam mais e mais em um esforço contraditório de remendar seus estragos ao mesmo e continuar estragando-o. Afinal, quem são os racionais?

domingo, 3 de julho de 2011

Embalar do sono


Embalada em um sono leve,
Sensível, embriagante,

Me transformo em uma folha de papel.

Dobro, fujo para a pasta.



Sonolenta e embebida,

Recostada em outras como eu,

Espero



Uma singela alma me escolher

E rabiscar em mim

O croqui de meu coração.



Com grafite macio,

Mais sensível que o sono,

A fim que eu acorde

E as linhas disformes

Tenham marcado

O meu instantâneo presente

E se reflitam

Em meu paciente futuro.



E quando o sono

Bater novamente,

Folha em branco

Serei mais uma vez.