domingo, 30 de outubro de 2011

Que horas são?

Dos rabiscos
Só saem trevas;

Dos olhos,

Decepção.



Cá, em um sítio mal-alumiado,

Sob o efeito estereoscópico

Das horas

Que já nem sei quais são,

Ouço um vento

Uivando algo.

Já é tarde,

Não falo a língua dos sons.



Monocromático cai em mim;

Tiras de vermelho apontam algo.

Vermelho-sangue: fecho os olhos

Para fugir.



Deito sob a sombra do tempo,

Numa nesga de luz zenital.

Paro, penso, olho,

O vermelho-sangue que jaz estagnado.



Da meia-noite, penso eu,

Só há gemidos

De um pobre potro

Em alguma charrete fantasma.

Vermelho-vivo, vermelho-sangue...

Não me julgue,

Os poetas sentem diferente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pequeno e sonhador

Pequeno e sonhador,
Levou-me ao sono do amor,
O sonho.
Voando em asas lívidas,
Sôfregas em águas virgens,
Em terras mágicas, terras místicas,
Criou história, inventou amores.
Chorou chuvas,
Sorriu sóis,
Voou nas nuves.
Ó impura alma desleixada,
Sonhos vãos não o tornarão mais forte!
Deixa teu sono de amor contemplar os bosques
Da imensidão da eternidade.
Conjuga teus verbos em sonhos,
Apeia do teu cavalo alado,
Vive a história de amor mais linda
Te doa sem esperar,
Te vinga sem nada fazer;
Porque quem faz mostra dor
E por dor
Não doa em ti, pardal
Não doa em mim, gaivota
Que há de se ter o sentimento mais lindo
Quem num belo sonho se enamora?


Caroline M. Dartora *0*

Estrada sem fim



Nessa estrada da noite

O pranto que ainda não rompeu

Desabrochará

Em belíssima flor

Que emanará

Sério canto,

Um alento em furor.



Olhos fechando,

Livrando-se da dor.

Amena ardência

A queimar as batidas,

Incendiar coração.



Bela Lua,

Que só observa,

Mostra o caminho,

Sem pranto,

Sem dor.

domingo, 9 de outubro de 2011

Utopias...


Não quero amanhecer de uma vez só.
Quero olhar a praia,
Os lírios, jasmins.
Quero seguir o ritmo,
Clarear em tom marfim.

Não apenas conhecer continentes,
Ir mais fundo, ganhar cor.
Velejar os mil mares,
Fulgurar um belo amor.

Quimeras, medusas: abissais.
Logo após o rio,
Indelével, absinto,
Jaz um herói fugaz.
Embebido de tanto amor
Por um belo lobo
Enrustido em cordeiro,
Que abstem-se em seu leito
Robusto em furor.

Pego eu, meu cajado,
Encantado por magia,
Ergo-o ao colorido céu
E cravo-o neste mundo encantado.

Com angústia acordo, atônita,
Prevendo um triste fim.
Viro-me, cabisbaixa,
E o que vejo?
Tudo em marfim.

Enfim este conto cessou,
Cerrou fundo em mim.
Ao invés de exterminá-lo,
Entrei nele, fundi-me enfim.