quinta-feira, 7 de julho de 2011

A garota e o vaga-lume




Sozinha na multidão; parada, frágil, atormentada ouvindo o lamúrio dos mortos-vivos.
Sentada ao chão nessa floresta inundada de almas, procuro, incessante, em meio ao turbilhão de tumulto, o horizonte. A nostalgia sobe por meu esôfago como uma bolha de sangue escaldante; minha diversão é o filme mudo, apagadiço, dos fantasmas e seu vai-vem, quiçá mudo pois já me embebi dele, suguei-o.
Em meio ao cenário emblemático cinza, que me envolve a tanto tempo, vejo um feixe claro, um vaga-lume, que irradia o verde-musgo das árvores e tira da nébria da eterna noite tantas belezas ocultadas pela constante e impermeável matiz monocromática.
Em um pequeno instante sinto que não pertenço a esse lugar, que há algum sítio distante onde eu possa ir, que não exista só a escuridão, o medo, o torpor das almas. É de onde esse ser veio, de onde trouxe a luz que agora me banha, sua luz.
Enquanto brinca comigo de longe, sinto-me mais perto dele do que me senti a vida toda neste mundo, entre esbarros e tropeços em seres inertes. Penso como farei para tê-lo, para trazê-lo até mim. Nesses poucos instantes que tudo isso me passa pela cabeça -séculos em minha mente-, sinto que a energia cedida a mim por aquele desconhecido toma forma, e se transforma em uma chama de coragem. Tomarei essa chama e transporei esse mundo de sombras que me cerca e me toma. Irei atrás de meu vaga-lume por céu e por terra para capturá-lo; sairei dessa infímia terra de mortos.
Levanto, sem tirar os olhos daquele ser que me entorpece, esqueço tudo e flutuo em sua direção, em sua luz. Ao chegar mais perto, a imensidão desaparece. Somos só eu e você; nós e nossa luz.
Mil anos se passaram para eu achar o que sempre procurei; finalmente um brilho em mesma sintonia para enfim virarmos energia e sermos o sol deste mundo gris.

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